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domingo, 1 de abril de 2012

Gárgulas


  Nunca encontrei um “demônio” que tivesse tanta dificuldade de esconder suas asas de anjo. Gravado em seu dorso, tem a esperança silenciosa de domar Pégaso, a fim de aniquilar sua Quimera. Na luta constante contra a frágil natureza, o que sobram são os personagens bem elaborados que formam um manto de retalhos ou uma falsa armadura de amargas convicções e com a solidão e decepções cunhou um enorme escudo; seu Dharma.
  Suas mãos pequenas e ressecadas pelo seu labor diário pedem carinho de forma despretensiosa, como se quisesse encontrar nas minhas um Braille com respostas para suas dúvidas inconfessáveis.
  Transformou seu corpo em uma alcova da alma, que por desesperança se comunica através de seus olhos negros e invasivos, aos olhá-los diretamente penetram na minha alma como dardos.
  Antagônica; faz seu leito de frieza no abismo e se aquece ao abraçar seu anjo-fruto que cultiva seus sonhos mais profundos e palpáveis.
  Existe a diferença entre os que vivem a cada dia como se fosse o último, e os que os que acordam como se fosse o primeiro de suas vidas.
  Um dia em uma das minhas últimas despedidas vi a sombra de sua alma passar por mim e em sussurro mudo, com seus lábios colados aos meus, pensei ter ouvido “eu te amo.”
  Tornamos-nos suspeitos de um crime que não chegamos a cometer...
  Por mera distração, sem intenção, tudo que fiz foi confessar, e em minhas ambições me transformei em seu algoz; em tudo que teme..., talvez deva ser assim..., yin e yang convivem, mas são opostos em seus pólos.
  Sei que não me encaixo em seus sonhos e nem em sua lista de amistosos abraços matinais...
  Assim tudo se resume entre: “o que é”, “o que ninguém quer ver”, “o que poderia ser” e “o que gostamos de ver”.
 Agora colherei o salutar descaso..., e ainda me pergunto por que não tentei fugir?!...
 Quem sabe um dia qualquer, num desses encontros casuais, talvez a gente se encontre e eu te chame de minha amiga e encontre uma explicação...
...Tenho saudade do texto que não li em um cartão que nunca recebi que dizia: “Você é especial p’ra mim.”
...Tenho saudade do tempo que era bem-vindo à mesa.
  Alguns milagres quase se realizam...
  Nem tudo o fogo consome...
  Até mais...

Leandro Ribeiro

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